Como já falei aqui algumas vezes, a minha mãe é alcoólatra. Não a culpo porque a vida não foi nada fácil para ela, sempre viveu muito presa, numa ditadura, em que ninguém podia dizer nada. Sofreu bastante. Mesmo agora não sei se é feliz. E acredito que se refugiou no álcool quando a minha avó faleceu, que apesar de não ser mãe dela, mas sim sogra, era com quem a minha mãe passava os dias, foi com quem aprendeu muito e de repente a minha mãe ficou sozinha, cada um a fazer o seu luto de forma individual.
Tentei algumas vezes que ela parasse de beber, coloquei no psicólogo, discutia vezes sem conta, mas chega a uma altura que fiquei cansada lutar contra a maré.
Quando lhe deu o AVC derivado ao álcool senti me culpada, inútil. Nunca chorei a frente de ninguém, fiz me sempre de forte para todos, mas quando estava sozinha as lágrimas corriam. Nunca quis pensar muito sobre isso, nunca pesquisei na net o que motiva. Ocupei a cabeça com todos os afazeres da casa, lavar as roupas do hospital, organizar quem a ia visitar, etc. mas no fundo sentia me culpada por tudo o que estava a acontecer. Apesar de não ser minha culpa. A principal culpa é da minha mãe que não admite a doença que têm, dizia sempre que não bebia e nos víamos, e mesmo hoje não admite depois dos exames de tudo. Se ela admitisse seria muito mais fácil tratar.
Hoje ela está melhor, acho que não bebe, até porque prendemos todo o álcool num sítio que ela não tem chave, mas mesmo assim não sei. Não estou com ela o dia todo. Um dia talvez volte a acontecer o mesmo, talvez volte toda a revolta dentro de mim, mas eu faço o meu melhor, aquilo que consigo…
O álcool é uma doença forte, que desgraça a minha família aos pouquinhos.